Há pouco mais de um mês, forasteiros de todo o País chegam ao pequeno município de Pontes e Lacerda a fim de encontrar pepitas
Homens e mulheres sobem aos montes pelas Serras da Borda e Santa Bárbara em busca de algum pontinho que brilhe em meio a terra. Ali, o que reluz realmente é ouro. Atraídos pelo o que estão chamando de “nova Serra Pelada”, milhares de forasteiros chegam todos os dias à cidade de Pontes e Lacerda, em Mato Grosso.
Cerca de 3 mil pessoas já se instalaram nas serras próximas a Pontes e Lacerda para tentar a sorte.
Com cerca de 40 mil habitantes, o município, que fica na divisa com a Bolívia, surgiu da garimpagem. “Até na cidade dá pra achar ouro, mas como fazia tempo que não achavam nada, a população foi desenvolvendo outras formas de ganhar dinheiro”, explica Gilmar Souza, assessor da prefeitura. Agora, quase 3 mil pessoas já estão em Pontes e Lacerda atrás da sorte.
A “corrida do ouro” começou há cerca de um mês, quando um homem encontrou uma pepita de ouro de 20 kg, como conta a história que tem circulado pelo WhatsApp.
A ‘febre do ouro’ reapareceu na cidade depois que um garimpeiro afirmou ter encontrado uma pepita de 20 kg.
“Dizem que ele andava de biz velha, agora tem uma caminhonete”, conta Houston Santos, morador de Aragarças, em Goiás, na divisa com Mato Grosso. Os “aventureiros”, como os moradores têm chamado quem está se instalando no garimpo, vêm de diversos Estados, como Bahia, Pará e Rondônia.
Santos resolveu não se aventurar no garimpo, mas desde então tem recebido mensagens com fotos e relatos. “Um homem já teria tomado facada por causa de uma pedra de 5 kg e tem pontos de prostituição no entorno”, conta. Nas fotos, as lonas e cabanas feitas ao pé da serra se espalham e é fácil perder a conta de quantas sejam.
Mesmo quem não é garimpeiro profissional consegue encontrar pequenas quantidades de ouro e faturar, segundo populares, de R$700 a R$800 ao dia.
A prefeitura nega que tenham acontecido casos de violência e que haja prostituição, mas afirma que não pode agir. “A serra fica em uma APP (Área de Proteção Ambiental), mas as pessoas entram por fazendas particulares. Um deles já colocou porteira para barrar o acesso. Outros cobram estacionamento, e a pessoa sobe mais 600 metros”, diz o assessor.
Em entrevistas a jornais locais, o prefeito Donizete Barbosa (PSDB) diz que o maior problema na cidade tem sido para os empresários. Apesar de ter aquecido o comércio, a descoberta das jazidas tem levado muitos funcionários a abandonarem seus postos de trabalho.
“É bom que tem dinheiro girando, mas os funcionários estão em falta”, relata um comerciante. Nas lojas, faltam pás e picaretas, as concessionárias trocam carros pelas pedrinhas brilhantes, e os hotéis estão cheios de novos hóspedes.
De acordo com os relatos, mesmo quem não é garimpeiro tem conseguido ganhar de R$ 700 a R$ 800 por dia apenas com o que sobra depois que os “profissionais” encontram pepitas maiores com a ajuda de detectores de metal. O grama do ouro é vendido entre R$ 100 e R$ 120 em Pontes e Lacerda.
Em busca de uma chance de enriquecer, os funcionários do comércio local têm largado seus empregos para passar o dia no garimpo.
Ação.
Na tarde desta terça-feira, 13, o Ministério Público de Mato Grosso ajuizou uma ação civil pública na Justiça Federal pedindo o fechamento do garimpo ilegal e a retirada das pessoas que estão na área. De acordo com o MP-MT, a exploração da área é ilegal, pois não há autorização ou licença para lavra emitida pelo Departamento Nacional de Produção Mineral. A decisão está prevista para esta sexta-feira, 16.
O governo do Estado também anunciou que está formulando um plano de ação com relação à exploração do novo garimpo. Uma vistoria técnica vai ser feita por servidores das superintendências de Licenciamento Ambiental e de Fiscalização da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e da Secretaria de Estado de Segurança Pública.
Segundo a emissora de rádio estadual, informações obtidas pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico apontam que a Mineradora Santa Elina requereu autorização, em 1991, para realizar pesquisa na região, mas ainda não obteve licença.